Ninguém está livre e isento desse mal. Mas é possível aprender a conviver com ele. Com os avanços da era moderna, acreditava-se que iríamos trabalhar menos e teríamos mais tempo para o lazer, a família, mas o que vemos é exatamente o contrário. Pessoas cada vez mais ansiosas, com musculatura rígida, respiração acelerada, sem paciência, e uma sensação de impotência diante de pequenos fatos tornando-se uma das maiores angústias do homem moderno.
HANS SELYE (1956,1976), definiu estresse como uma resposta inespecífica do corpo a qualquer demanda, independentemente de sua natureza. Esta resposta incluía uma série de reações fisiológicas que ele determinou de Síndrome de Adaptação Geral (SAG). Neste contexto, o estresse é visto como externo ao indivíduo. O modelo psicossocial, os eventos da vida são medidos como possíveis causadores de doença. O estresse é considerado um fator predisponente ou precipitante que aumenta a vulnerabilidade do indivíduo às doenças (RAHE, 1975).
Selye percebia que havia algo em comum entre os seres humanos doentes, independentes da patologia existente, denominando esse conjunto de sintomas como Síndrome de Adaptação Geral (SAG). Ainda observou alterações nas glândulas supra-renais (dilatação do córtex), no timo (involução), baço, estômago (úlcera) e muitas outras estruturas linfáticas do corpo. Identificou algo como uma única reação não específica do corpo a qualquer tipo de lesão infligida. Verificou, após um tempo, que a SAG, evoluia de acordo com três fases, que seriam a reação de Alarme (RA), a fase de Resistência (FR), e a fase de Exaustão (FE). A partir deste momento, estabeleceram-se condições para a realização de uma análise científica sobre o stress.
Fase de Alarme: quando oorganismo reconhece o estressor elaborandouma resposta orgânica rápida para o enfrentamento ativando no sistema nervoso central o hipotálamo e a hipófise com liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrópico). O ACTH estimula as glândulas supra-renais a secretarem corticóides e adrenalina (catecolamina). As glândulas adrenais passam então a produzir e liberar os hormônios do estresse (adrenalina e cortisol), que aceleram o batimento cardíaco, dilata as pupilas, aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão (e ainda o crescimento e o interesse pelo sexo), contraem o baço (que expulsa mais hemácias para a circulação sangüínea, o que amplia a oxigenação dos tecidos) e causa imunodepressão (redução das defesas do organismo). A função dessa resposta fisiológica é preparar o organismo para a ação, que pode ser de “luta” ou “fuga”.
Fase de Resistência: nessa fase há o aumento da capacidade de resistência do organismo, independente da permanência ou não do estressor, com uso de todos os recursos disponíveis, gerando sensação de desgaste idiopático, inclusive com danos de memória. Nesse momento há adaptação do organismo, com a respiração, os batimentos cardíacos, circulação e a pressão arterial voltando a níveis anteriores. Porém, quando o estressor é de longa duração ou muita intensidade, a resistência vai diminuindo, o organismo se enfraquece e inicia-se a terceira fase, que é a Exaustão.
Fase de Exaustão: o estímulo estressor permanece e o organismo não é capaz de adaptar-se adequadamente. Os sinais da fase de alarme retornam mais acentuados, tornando o organismo mais susceptível a doenças. Observam-se sintomas específicos dos órgãos afetados e da patologia que nele se instalar podendo ocorrer:
- Infarto;
- Úlceras;
- Psoríase;
- Depressão;
- Morte em casos mais graves.
Em estudo recente, LIPP (2000), através do Inventário de Sintomas de Stress (ISS), identificou a quarta fase, que se desenvolve entre a fase de resistência e exaustão, denominando-se fase de quase exaustão. Nessa fase há o enfraquecimento e incapacidade do indivíduo em adaptar-se ao estressor, podendo surgir leves problemas de saúde, que não o incapacitam.
O estresse é uma reação desencadeadora por qualquer evento que confunda, amedronte ou emocione a pessoa profundamente gerando interferências em sua vida (LIPP,1994). Com essa descrição comparamos os conceitos de VILARTA e GONÇALVES (2004), que dizem que Qualidade de Vida, pode ser conceituda sobre múltiplos significados e não são poucos os que se atribuem a ela. Dificilmente se consegue unanimidade de opinião entre pessoa da mesma comunidade, quem dirá de toda uma sociedade, então, listaram alguns elementos que estariam presentes na maioria das opiniões: segurança, felicidade, lazer, saúde, condição financeira estável, família, amor e trabalho. É certo que não é razoável esperar uma vida sem acontecimentos que afetem o cotidiano e nesses casos é que funcionam as técnicas anti-stress, melhorando nosso desempenho físico e intelectual de maneira vantajosa.
Com isso, entendemos que o mecanismo do estresse, que põe em alerta as funções corporais e prepara a pessoa para uma determinada ação em pequenas doses, melhora o desempenho e aumenta a produtividade, mas quando o estresse se torna persistente e crônico, pode ter efeitos devastadores para a saúde e o bem-estar interferindo na Qualidade de Vida das pessoas.
Referências Bibliográficas
De Martino M.M.F., Pafaro R.C. Estudo do Estresse do enfermeiro com dupla jornada de trabalho em um Hospital de Oncologia Pediátrica de Campinas. Dissertação de Mestrado pelo Departamento de Enfermagem da UNICAMP, 2002. Disponível aqui
Lipp, M.E.N.. Como enfrentar o stresss. Ed. Ícone ; Campinas ,2000.
Carla Parada Pazinatto Andreoli
Mestre em Enfermagem na Linha de Pesquisa Trabalho, Saúde e Educação pela FCM, Departamento de Enfermagem, UNICAMP.
carlaandreoli [at] uniararas.br